entro de Excelência em Primeira Infância é uma iniciativa da ONG IBEAC, em parceria com o Centro Popular de Cultura e Desenvolvimento (CPCD)
Situada no extremo sul da cidade de São Paulo, a região de Parelheiros conta com quase 162 mil habitantes, e apresenta baixos índices sociais e econômicos. Além disso, ela ainda é considerada região de alta vulnerabilidade, segundo dados do Índice Paulista de Vulnerabilidade Social (IPVS). Além disso, possui um dos maiores índices de gravidez precoce (19 anos ou menos) da capital, o que resulta em 16,53% (a média é de 9,23%). As informações são da Secretaria Municipal de Saúde.
Centro de Excelência em Primeira Infância
Por esta razão, que inclui a urgência em garantir que a gravidez da gestante, o nascimento e os primeiros anos de vida das crianças aconteçam em segurança e bem-estar, a ONG IBEAC (Instituto Brasileiro de Estudos e Apoio Comunitário), em parceria com o Centro Popular de Cultura e Desenvolvimento (CPCD), criou o Centro de Excelência em Primeira Infância. A coordenadora do projeto, a enfermeira de formação, Flávia Kolchraiber, explica:
“Ao contrário do que se pensa, o Centro não tem um espaço físico. Ele é uma causa. Temos como missão transformar Parelheiros no melhor lugar do mundo para se nascer e viver.”
Apoio de mães ao Centro de Excelência em Primeira Infância
14 mulheres residentes dos bairros de atuação do projeto (Barragem, Colônia, Jardim Silveira, Nova América, São Norberto, Vargem Grande) se mobilizam para que o Centro de Excelência em Primeira Infância ganhe vida, comenta Flávia:
“São mulheres que se transformam e se mobilizam individualmente e coletivamente.”
Atuação das Mães Mobilizadoras no Centro de Excelência em Primeira Infância
Elas são as Mães Mobilizadoras, que recebem auxílio mensal e são acompanhadas por três mediadoras de leitura e uma coordenadora.
Portanto, as Mães Mobilizadoras realizam uma série de atividades com as futuras e jovens mães para garantir excelência no cuidado da primeira infância desde a gravidez. Além disso, visitas presenciais, batizadas de “visita olho no olho”, acontecem junto à mediação de leitura, brincadeiras lúdicas, sessão de fotos durante a gravidez, e rodas de conversas. Já a mesa de conversas é regada a temas de alimentação saudável, cuidados com o recém-nascido, amamentação e violência obstétrica.
O parceiro ou parceira, assim como os avós, também são convidados a participar. Afinal de contas o bebê não é só da mãe, reforça Thaís Pinheiro, única Mãe Mobilizadora que não tem filhos:
“A gente não olha só para a gestante e o bebê, nem colocamos a mulher como única responsável por aquela criança. Convidamos o parceiro ou a parceira, os avós, a família para entender que o bebê não é só dela. Trabalhamos com o ditado africano de que é preciso uma aldeia inteira para cuidar e educar uma criança. A responsabilidade não é só da mãe.”
Com apenas 26 anos de idade, Thaís estuda pedagogia e reside em Vargem Grande. Ela integra o Centro de Excelência em Primeira Infância desde o início. Ela e mais uma mãe do projeto batiam de porta em porta para apresentar a iniciativa e mostrar as atividades.
“E aí uma mãe foi indicando para outra, que foi falando para outras famílias e o projeto foi crescendo.”
Crescimento
Contudo, as Mães Mobilizadoras foram conquistando as gestantes, criando vínculos com elas, suas famílias e crianças. E o resultado é que elas se tornam cada vez mais referência de informação, acolhimento, atenção e troca. Flávia reforça:
“Quando temos uma escuta empática, as pessoas começam a querer compor junto, a sonhar junto. Durantes quatro anos de projeto, nunca tivemos alguém que se recusou a participar, que fechou as portas.”
Efeitos da pandemia
Em relação à pandemia de Covid-19, Flávia afirma que o número de pessoas atendidas pelo Centro de Excelência em Primeira Infância triplicou desde a chegada da Covid-19 no Brasil.
Neste caso, uma Mãe Mobilizadora que atendia 20 famílias, passou a atender 60. Portanto, este time de mulheres teve de se adequar à nova realidade. Foi assim que elas desenvolveram a metodologia 4P: pão, proteção, plantio e poesia.
Resultado: foram distribuídas cerca de 9.000l toneladas de comida, 25.000 máscaras, 1.000 cartões de alimentação e 4.000 livros. Também foram identificadas casas e terrenos onde poderiam ser feitas hortas comunitárias, além do Clube de Trocas, que já era realizado no bairro, foi reforçado.
Todavia, as rodas de conversas acontecem agora via WhatsApp, com encontros virtuais. Foi criada ainda lives que ressaltam a importância da leitura, plano de parto, e cuidados com o coronavírus (pelo Facebook).
Espaço para a poesia
Apesar dos temores que a pandemia trouxe, as Mães Mobilizadoras ainda encontraram tempo para distribuir poesia, conta Flávia:
“A literatura está no DNA do Instituto e é um direito de todos.”
A partir da poesia criam-se espaços de diálogo com famílias ou com mçaes mais fechadas, reforça Thaís:
“Atendia uma mãe que tinha dificuldade em demonstrar afeto. Comecei a tratar a afetividade através da literatura. Depois de um tempo, fui na casa da família para fazer a troca do livro, e a mãe, emocionada, me disse que tinha lido com o filho e, pela primeira vez, ele se deitou no colo dela e ela conseguiu abraçá-lo.”
Bibliotecas
Por fim, a ONG IBEAC criou algumas bibliotecas, situadas em Parelheiros. É o caso da Biblioteca Comunitária Caminhos da Leitura. Ela já é famosa na região por estar localizada no Cemitério Colônia, um dos mais antigos de São Paulo.
*Foto: Divulgação/Marlene Bergamo/Folhapress
Fonte: https://www.scpelaeducacao.com.br/parelheiros-ong-cria-centro-de-excelencia-em-primeira-infancia/